A FOURMI APOIA UMA PUBLICIDADE (E UM MERCADO) MAIS PRETO E PLURAL!
Neste Dia da Consciência Negra, não poderíamos deixar de lado a constatação de que a publicidade brasileira é branca e, em contrapartida nosso país é predominantemente preto.
O mercado e o mundo estão passando por mudanças drásticas, e a inclusão racial precisa fazer parte do posicionamento das empresas assim como da sociedade.
Assim, nunca foi tão necessário discutirmos os obstáculos, os desafios e a vivência de profissionais pretos na publicidade e no mercado no dia da consciência negra.
Pensando neste assunto, demos voz a queridos amigos da Fourmi para apresentarem os seus pontos de vista.
Veja aqui o que pensam alguns pretos(as) sobre a publicidade brasileira, o mercado de trabalho e a sociedade.
Somos um país predominantemente preto, e com peças de publicidade compostas em sua maioria por brancos. Sendo assim, o que significa representatividade para você, como consumidor(a) e como profissional preto(a)?
Representatividade é reconhecimento e dever!
“Representatividade pra mim é o reconhecimento do contexto histórico e social do nosso país. Valorizar e dar voz a toda luta e resistência dos corpos afro-atlânticos que acharam tantas forças para permanecerem aqui. É dar cor! É colorir essa imagem branca que tentam nos vender! Representatividade é ampliar os espaços pretos de existência para além dos nossos próprios corpos. É reconhecer-se em outro alguém. É dever e dívida histórica da sociedade brasileira por tantos apagamentos e silenciamentos que repercutem e marcam o cotidiano das vidas pretas. Representar é significado, possibilidade, aconchego e esperança que, um dia, conquistaremos o nosso devido espaço no mercado”.
Alice Fernandes de Andrade, estudante do quarto ano de Terapia Ocupacional. Multiplicadora e guardiã de memórias ancestrais por meio das danças negras.
Temos um longo caminho pela frente
“O Brasil é mal resolvido com suas principais questões, principalmente com o período escravocrata e com o racismo gerado a partir desse crime. Obviamente que 132 anos depois da ‘abolição’ (sim, entre aspas), os sintomas dessa ferida infeccionada persistem, e inegavelmente nós podemos ver isso em várias vertentes, como na composição de equipes e times de colaboradores de diversos segmentos. No setor de comunicação, por exemplo, são raros os profissionais negros. Mais raros ainda os profissionais negros que ascendem, que conquistam posição de gestão e liderança. No meu caso, particularmente, depois de ter passado por quatro agências, eu posso afirmar categoricamente que sempre fui uma das únicas negras (senão, a única) no quadro de funcionários.
Ao mesmo tempo que isso me corrói por dentro, a pressão que coloco sobre mim mesma é muito grande, visto que eu me sinto na obrigação de ‘honrar’ esse posto, essa oportunidade, de abrir novos caminhos para que outros negros alcancem e ocupem a mesma posição, que tenham as mesmas oportunidades. O mesmo que acontece na publicidade. É claro que eu não posso negar que as empresas estão começando a entender o seu papel na sociedade e que estão dando mais oportunidades a modelos negros – justamente porque a beleza negra VENDE SIM, porque o padrão de beleza é uma construção social e cabe a elas desconstruírem esse padrão de que tudo que é branco é bom e bonito, e tudo que é preto é feio, ruim e inadequado.
Se identificar, se reconhecer
É de uma importância indescritível se ver, se identificar e se reconhecer na TV, no outdoor, nas campanhas e nos posts do Instagram. Ver pessoas com o mesmo tom de pele, com o mesmo cabelo, com o mesmo nariz e com a mesma boca ganhando o mundo. Mas ainda temos um longo caminho pela frente, visto que, não são poucos os relatos de que as marcas pagam menos para modelos negros em comparação a profissionais não negros, por considerarem que o retorno não é o mesmo e também pela ideia da servidão, de que o negro tem que trabalhar de ‘graça’. Muitas são as questões, e por mais cansativo, exaustivo e prejudicial, mentalmente e fisicamente falando, só nos resta lutar para mudar essa situação”.
Tatiane Dametto, Profissional de Planejamento Estratégico.
As empresas precisam entender a importância da diversidade
“Como designer, eu sempre me deparei com cenários predominantemente brancos. Me formei em publicidade numa sala majoritariamente branca. Nunca ouvi falar sobre referências negras que contribuíram para a evolução do design e só estudei campanhas compostas por ‘Famílias Margarina’ – que a gente já entendeu que não existem, né? Eu vejo que o mercado de comunicação ainda é excessivamente masculino, branco e hétero. Indivíduos que reproduzem sua homogenia dentro e fora das marcas. Mas a verdade é: se eu não me vejo naquela comunicação, por que comprar? Ver as pessoas pretas ocupando todos os lugares, especialmente as mídias, ajuda a moldar a maneira como vemos o mundo. Isto quebra os estereótipos construídos ao longo do tempo, nos ajuda a construir novas referências e inclui os pretos nos contextos de consumo.
De dentro pra fora
Eu acredito que a representatividade começa de dentro pra fora. Creio que só empresas que trabalham a diversidade como pilar conseguem alcançar uma representatividade genuína em suas campanhas. Porque nós, pessoas pretas, sabemos quando um personagem está cumprindo cota. A gente não quer representatividade simbólica… a gente quer ver e ouvir histórias inclusivas que tenham autenticidade. Queremos pretas protagonistas! Mas não protagonistas que tenham apenas tom de pele mais claro, com traços finos e cabelo alisado, pois isso só afirma o estereótipo da ‘preta bonita’. Felizmente, empresas que não entendem a necessidade da diversidade estão ficando para trás. É necessário colocar o usuário no centro do processo de criação de qualquer comunicação ou produto/serviço. É necessário ter líderes e times diversos que expressam a genuinidade no design e, além disso, dar espaço para plataformas de diversidade, como os bancos de imagens inclusivos”.
Amanda Ferrareto, UX/UI Designer.
Em suma, agora é o momento de imaginarmos o futuro que queremos para nós e a sociedade, e a Fourmi acredita que ele só valerá a pena se for inclusivo.
Independente de uma data , que o Dia da Consciência Negra sirva de reflexão não só nesse dia, mas sempre.
UMA ENTREGA A CADA ENTREGA.
Fourmi Publicidade.